quinta-feira, 28/março/2024
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Violência contra professores cresce em Mato Grosso

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O número de professores vítimas de violência cometidas por alunos dentro das escolas tem crescido de maneira alarmante na capital mato-grossense. Segundo dados da Delegacia Especializada do Adolescente (DEA), só no período de janeiro a junho deste ano foram registradas 502 ocorrências, envolvendo 32 tipos de crimes diferentes dentro das instituições de ensino de Cuiabá.

Uma pesquisa realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), põe o Brasil no topo do ranking de violência em escolas. De acordo com o levantamento, 12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana. O índice é o mais alto entre os 34 países pesquisados, uma vez que a média entre eles é de 3,4%.

Para o titular da DEA, delegado Paulo Alberto Araújo, são vários os motivos que geram os conflitos entre professores e alunos dentro das salas de aula. Porém, para ele, o pivô principal é a falta de princípios e valores que deveriam começar dentro de casa. “A família deve trabalhar em conjunto com a escola, para que o aluno desenvolva o seu melhor em ambos os recintos”. Ele ressalta que por mais que não pareça, o menor é a principal vítima nesse tipo de caso. “Quando a criança não recebe o que lhe é de direito por parte dos pais, como a atenção devida, sentirá essa necessidade. E os problemas enfrentados em casa irão eclodir dentro da sala de aula”.

Se por um lado existem dilemas a serem solucionados no âmbito familiar, o delegado lembra que, por outro, a escola também tem sua responsabilidade no que tange a humanização dos alunos. “As crianças evoluíram, mas a escola não. Muitos professores ainda se limitam ao ensino arcaico e ficaram parados no tempo, o que dificulta um melhor relacionamento com os alunos”.

Nesse quesito a professora Luzia Abich, gerente da Coordenadoria de Programas e Projetos, da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), concorda com o delegado. Segundo ela, a falta de interesse por aquilo que se ensina na escola resulta em indisciplina. “Sem interesse pelo que é oferecido em sala de aula, o aluno se rebela, fica ocioso, e sobra tempo para criar conflitos tanto entre professores, como com os colegas de classe”.

Recentemente, a Seduc realizou uma pesquisa interna, nos chamados “livro preto”, para levantamento de dados que apontem a natureza do comportamento dos alunos, bem como o quantitativo de incidências, os encaminhamentos dados pela escola ou a ausência deles. No primeiro semestre deste ano, a amostra elencou 96 ocorrências, entre ameaças, conflitos e agressões verbais nas escolas estudadas.

Abich explica que esses tipos de ocorrências acontecem por falta de uma escola aberta ao diálogo e fortificada quanto à sistematização curricular e estrutural das instituições de ensino. “Os professores não estão preparados para lidar com a criança de hoje. Falta um currículo e uma estrutura melhor, que ampare esses alunos, de maneira a não gerar conflitos, e sim solução”.

Ela fala ainda que dois quesitos fazem toda a diferença quando o assunto é relacionamento professor e aluno. “Quando o educador entra em sala de aula, a criança analisa se ele tem domínio sobre o que irá ministrar e se ele tem autoridade. E se ele percebe que o professor não tem, a situação perde literalmente o controle”.

Foi nessa situação que a professora L.M.L, 68, se encontrou pouco antes de se aposentar. Ela relata que um aluno de 14 anos, da escola estadual em que ela dava aula, sem motivo algum começou a persegui-la dentro da unidade. E com o passar do tempo, chegou a ir na porta de sua casa. “Ele disse em alto e bom tom, que não tinha ‘ido’ com a minha cara, porque eu era velha e negra. Cheguei a abrir processo administrativo contra ele. Era só mais um dos vários que ele já respondia”.

A professora tentou transferência para uma outra escola, mas não conseguiu pelo fato de ser o último ano em que lecionava. Até que chegou um dia em que o conflito foi além da sala de aula. “Quando cheguei em casa, as janelas estavam todas quebradas e o muro pichado com a frase ‘Lugar de professor é no inferno’. Nunca vou me esquecer daquele dia”.

A educadora registrou um boletim de ocorrência contra o aluno e conseguiu uma licença para ficar longe das salas de aula até o final do inquérito. “Infelizmente o menino não foi punido, por ser menor de idade. E ainda chegou a me enviar um e-mail ironizando a minha situação”.

O caso aconteceu em 2011 e até hoje a professora é acompanhada por uma psicóloga. “Após mais de 25 anos lecionando, criei um trauma da sala de aula”.

O coordenador da Escola Estadual Francisco Alexandre Ferreira Mendes, Danilo Benigno de Souza confirma que apesar dos vários programas de incentivo à educação e contra a violência serem desenvolvidos na unidade, conflitos entre professores e alunos tem crescido nos últimos anos. “Desde que estou aqui, nunca presenciei agressão física. Porém, é comum casos de bullying, agressões morais e verbais e, infelizmente, o índice só tem aumentado”.

Souza conta que existem alunos que tentam burlar as normas internas da escola, criar um sistema em que eles são a autoridade. “No primeiro dia de aula a professora entrou em sala e o aluno já disse que era bom ela andar nas regras da turma, se quisesse ter uma boa convivência com eles. E outro chegou a perguntar se ela não tinha medo de sumir”. Para o coordenador, isso acontece por três motivos. “Violência generalizada, estrutura familiar fragilizada e falta de aproveitamento de tempo”.

Atualmente a escola oferece aos alunos projetos de jiu-jitsu, futsal, basquete e fanfarra. “Nossa intenção é manter as crianças ocupadas com atividades construtivas. Afinal, tempo livre com a rua disposta a receber os adolescente é um perigo”.

Também no intuito de amenizar esses tipos de embates, a Seduc em parceria com a Polícia Militar, Conselhos Tutelares e demais órgãos de defesa da criança desenvolve o programa Paz na Escola, que tem como objetivo debater práticas que orientem e fortaleçam o atendimento de conflitos nas unidades escolares.

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