terça-feira, 23/abril/2024
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O poeta pantaneiro

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'Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira'.

(Manoel de Barros)

Sou daqueles que não acreditam na morte. Ou melhor, que creem que a morte só atinge nosso corpo físico, mas não o nosso espírito, que se liberta de uma embalagem gasta e parte para novos desafios em sua jornada de aprendizagem. Assim, o falecimento de um ente querido nos entristece porque nos priva temporariamente de seu convívio, mas encontramos consolo na esperança do reencontro futuro, quando nós mesmos fizermos nossa passagem.

Se penso que isso é válido para cada um de nós, com certeza o é ainda mais em relação aos grandes poetas, que se vão, mas deixam conosco o melhor de sua alma, traduzida em versos e mensagens que irão nos acompanhar, encantar, alegrar e emocionar enquanto por aqui estivermos.

'Ele tinha no rosto um sonho de ave extraviada.
Falava em língua de ave e de criança.'

Nenhum poeta desaparece quando seus poemas ainda vivem e provocam a sensibilidade das gentes. Vida é o que não falta na poesia de Manoel de Barros. Poemas em linguagem simples sobre um universo simples, de pássaros, sapos, caramujos. Poemas de pés descalços para se ler ao ar livre:

'Eu queria aprender
O idioma das árvores.
Saber as canções do vento
Nas folhas da tarde.
Eu queria apalpar os perfumes do sol.'

Manoel de Barros não aceitava ser chamado de poeta do Pantanal, pois dizia que não era poeta de paisagem, mas de coisas. Mas sem dúvida foi um poeta pantaneiro, que retirou de sua vivência junto às águas, plantas, bichos e estrelas a matéria-prima de sua arte:

'Quando meus olhos estão sujos da civilização,cresce por dentro deles um desejo de árvores e aves'.
Tristes ficamos com o temporário adeus ao poeta. Agradecidos e felizes permanecemos na companhia de seus versos.

Finalizo, dando voz à poesia viva de Manoel de Barros:

'A gente nasce, cresce, amadurece, envelhece, morre.
Pra não morrer, tem que amarrar o tempo no poste.
Eis a ciência da poesia: amarrar o tempo no poste'.

Luiz Henrique Lima – auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT Graduado em Ciências Econômicas, Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento Ambiental, Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia.
 

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